Terapias alternativas são questionadas




Olá! Eu sou a Dani e esse texto fala sobre Terapias alternativas são questionadas.
Matéria publicada neste domingo no Correio Braziliense traz o questionamento de psicólogos sobre os tratamentos chamados de alternativos. Para eles, terapias holísticas nem sempre têm acompanhamento adequado ou embasamento profissional. Leia a notícia e deixe sua opinião.

A ciência de um lado, o espírito do outro. As discussões entre o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, o sim e o não também alcançam a psicologia. Enquanto as terapias alternativas se popularizam em torno de ideias como curas milagrosas e tratamentos complementares aos convencionais, médicos e psicólogos brasilienses denunciam a concorrência desleal, a mercantilização da profissão e os riscos à saúde. Entidades vinculadas às profissões regulamentadas e previstas em lei também reclamam de falta de ética e exercício ilegal da atividade.

A polêmica também virou tema de estudo acadêmico. O psicólogo Marcelo Nicaretta, doutorando em psicologia clínica pela Universidade de Brasília (UnB), desenvolve trabalho sobre a exploração de terapias alternativas — chamadas de holísticas e exemplificadas por terapias florais, corporais, cromoterapia, reiki e outras (leia quadro) — como mercado paralelo e charlatanismo. “Há um conjunto de pessoas que oferecem serviços de psicoterapia, mas sem treinamento para tanto. Estão vendendo serviços psicológicos, que exigem no mínimo cursos de especialização”, alertou Nicaretta.

O especialista não se posiciona contra os alternativos. Mas chama a atenção para os perigos de técnicas que não contam com regulamentação ou profissionais sem qualquer tipo de formação. “Só o psicoterapeuta sabe a diferença entre neurose e psicose. Isso é muito importante para a escolha de determinado método. Os médicos, por exemplo, são proibidos pelo Conselho Regional de Medicina de prescrever Florais de Bach. Mas os alternativos podem, pois não são submetidos a nenhum órgão fiscalizador”, destacou.

Os conselhos regionais de psicologia não incentivam os psicólogos a oferecer terapias estranhas à área original. Pelo contrário. Se têm diploma e registro profissional, podem ser acusados de antiéticos — caso se apresentem como tais sem os documentos básicos para a atividade, acabam enquadrados em exercício ilegal da profissão. “Os conselhos regionais da categoria só reconhecem terapias com base científica determinada. É dever do profissional da área usar métodos comprovados e claros”, explicou a presidente do Conselho Regional de Psicologia da 1ª Região (Distrito Federal), Marisa Monteiro Borges.

Os direitos e os deveres do psicólogo estão previstos em lei de 1962. Desde então, as técnicas holísticas se popularizam a ponto de diversas delas se firmarem no mercado terapêutico — qualquer uma delas pode ser encontrada em jornais e revistas com as mais variadas denominações. Mas, segundo Marisa, deve-se ficar atento aos perigos dos tratamentos alternativos. “O grande problema é que algumas técnicas podem se mostrar desastrosas e com consequências graves para a cabeça dos pacientes. E, às vezes, quem tem de resolvê-las é um psicólogo”, avaliou.

Demora fatal
Especialistas dizem que não são raros os casos em que pacientes desperdiçam tempo em busca de tratamentos ditos inovadores e sem base científica. São homens e mulheres que se lançam na crença de curas milagrosas sem mesmo ter certeza do que o corpo precisa para deter o avanço de uma doença. Entre cores, cristais e essências florais, podem perder a chance de descobrir o tipo da doença logo no início e, assim, deixar de combatê-la por meio da medicina convencional. Para alguns, o resultado da procura por métodos alternativos pode ser fatal.

Os parentes de um empresário de Brasília desconfiam que a demora em tentar descobrir um problema de saúde contribuiu para a morte dele. O drama familiar começou depois que ele passou a sentir dores constantes nas costas. Tinha 63 anos. Apesar do incômodo, que também se refletia nos membros inferiores, optou por não procurar ajuda médica. Começou tratamentos por conta própria. Fez terapia corporal, massagens e acupuntura ao longo de um ano. As intervenções funcionaram como paliativo, mas as dores nunca cessaram por completo.

O empresário, então, se consultou com um ortopedista. Acabou encaminhado para um exame de ressonância magnética. Descobriu que o problema não era na coluna — e, sim, no coração. Precisou de cirurgia. Ficou um ano e três meses no hospital. Mas morreu no ano passado, aos 65 anos, por conta de complicações no órgão doente. “Acho hoje que, se tivesse procurado um médico desde cedo, talvez ele estivesse vivo e com o problema resolvido”, arriscou a mulher dele, uma administradora de empresa de 59 anos.

Sindicato recomenda certificação
As técnicas e os métodos das terapias não convencionais são usados sem legislação que os regulamente. Mas o Ministério do Trabalho reconhece o Sindicato dos Terapeutas (Sinte) como o único representante nacional de tais atividades. O órgão, com sede em São Paulo, recomenda que os profissionais da área se credenciem e tenham certificados dos cursos oferecidos — nenhum deles existe no ensino superior. Levantamento feito pela entidade aponta 150 mil terapeutas holísticos, com cerca de um terço detentor da Carteira de Terapeuta Holístico Credenciado (CRT).

Por e-mail, a assessoria do Sinte informou que “o termo ‘alternativo’ é pejorativo, passando a ideia de que se trata de uma segunda opção, de um paliativo. O mesmo podemos dizer da expressão ‘complementar’, que, apesar de não ser ofensivo, não corresponde à verdade, já que nossa atividade independe das demais, não sendo parte de nossa proposta ser um complemento de outra”. Admite-se apenas o uso do termo terapia holística, que significa equilíbrio ou harmonia na totalidade”.

“Cada caso é considerado único e deve-se dispor dos mais variados métodos para possibilitar a opção pelos quais o cliente tenha afinidade”, acrescentou.

O terapeuta holístico também “não fala de doenças nem pede exames, pois a avaliação é realizada pelo paradigma energético”. Os produtos recomendados devem ser naturais e isentos de receita médica. Esse mercado movimenta R$ 6,3 bilhões por ano.

A Associação de Mestres Terapeutas Reikis do Distrito Federal representa as terapias holísticas na capital do país. Ivone Duarte, membro da entidade, também defendeu que a categoria deve fazer cursos específicos e de corpo presente. Para a entidade, porém, não há perigo para o paciente caso o responsável por um determinado atendimento não tenha adquirido formalmente o conhecimento. “Mesmo que a pessoa não seja iniciada, não há risco. Afinal, não se mexe no corpo físico. Apesar disso, acredito em curas milagrosas”, afirmou Ivone, que fala pela associação na ausência do presidente.

O Correio conversou ainda com uma psicóloga que trabalha com Florais de Bach. Por ser impedida de exercer a atividade pelo Conselho Regional de Psicologia, preferiu manter-se no anonimato. Segundo ela, muitos colegas fazem o mesmo. “A categoria deveria ser menos egoísta e se informar melhor. Os florais são complementares e não substituem os tratamentos convencionais, se necessários”, disse. (GG)

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